Dois enormes tubarões brancos observam os sobreviventes de um naufrágio.
- Siga-me, filho! - diz o tubarão pai para o filho.
E nadam até os náufragos.
– Primeiro, vamos nadar em volta deles, mostrando apenas a ponta das nossas barbatanas fora da água.
E assim eles fizeram.
– Muito bem, meu filho! Agora vamos nadar ao redor deles, algumas vezes, com nossas barbatanas totalmente de fora.
E assim eles fizeram.
– Agora, nós podemos comer todos eles.
E assim eles fizeram.
Quando finalmente se saciaram, o filho perguntou:
– Pai, por que nós não os comemos logo de início? Por que ficamos nadando ao redor deles várias vezes?
O sábio e experiente pai respondeu calmamente:
– Porque ficam mais saborosos sem merda dentro...
“Estratégia é tudo”
Publicações
Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança
Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava
Amor eu sinto a sua falta
E a falta, é a morte da esperança
Como um dia que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança
Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama
Por onde andei?
Enquanto você me procurava
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava.
Falar é completamente fácil ;
quando se tem palavras em mente
que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes;
o que realmente queremos dizer...
Fácil é julgar pessoas que ;
estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros...
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém ;
dizer o que ela deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas horas ;
e dizer sempre a verdade quando for preciso...
Fácil é analisar a situação alheia ;
e poder aconselhar sobre esta.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência
quando algo lhe deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém ;
que realmente te conhece...
Fácil é mentir aos quatro ventos
o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração...
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos
com o que achávamos ter visto...
Fácil é brincar como um tolo.
Difícil é ter que ser sério...
Fácil é dizer "oi", ou "como vai ?".
Difícil é dizer "adeus"...
Fácil é abraçar, apertar a mão.
Difícil é sentir a energia que é transmitida...
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só...
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência...
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado
para escutar esta resposta...
Fácil é querer ser o que quiser.
Difícil é ter certeza do que realmente és...
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar (ou vice-versa)...
Fácil é beijar.
Difícil é entregar a alma...
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém...
Fácil é ferir quem nos ama.
Difícil é tentar curar esta ferida...
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las...
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho...
Fácil é exibir sua vitória a todos.
Difícil é assumir a sua derrota com dignidade...
Fácil é admirar uma lua cheia.
Difícil é enxergar sua outra face...
Fácil é saber que está rodeado por pessoas queridas.
Difícil é saber que está se sentindo só no meio delas...
Fácil é tropeçar em uma pedra.
Difícil é levantar de uma queda, toda machucada...
Fácil é desfrutar a vida a cada dia.
Difícil é dar o verdadeiro valor a ela...
Fácil é rezar todas as noites.
Difícil é encontrar Deus nas pequenas coisas...
Carlos Drumond de Andrade
Colaboração: Claudete Pontes - Viena - Áustria
Às vezes, fico me perguntando porque é tão difícil ser transparente...
Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero,
não enganar os outros.
Mas ser transparente é muito mais do que isso.
É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que sente...
Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas,
destruir muros...
Ser transparente é permitir que a doçura aflore, transborde...
Mas, infelizmente, a maioria decide não correr esse risco.
Preferimos a dureza da razão à leveza reveladora da fragilidade humana.
Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam da alma...
Preferimos nos perder numa busca por respostas a simplesmente admitir que não
sabemos nada e que temos medo!
Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez
mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê
a sensação de proteção.
E assim, vamos nos afundando em falsas palavras, atitudes, em falsos sentimentos...
Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar
e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar...
A doçura, a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós... Uma saudade desesperada de nós mesmos, daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas
que não temos coragem de mostrar...
Porque aprendemos que isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro!
Quando, na verdade, agir com o coração, poupa a dor...
Sugiro que deixemos explodir toda a doçura!
Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o
nosso medo, não desejar parecer tão invencíveis...
Chega de tentar controlar tanto....
Responder tanto...
Competir tanto...
Tente simplesmente viver, sentir e amar.
Texto de Rosana Braga
Colaboração: Claudete Pontes -Viena - Áustria

Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida.
E o artigo era bem definido, feminino singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir.
E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram conversando, sentados num vocativo quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula, ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão
forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício.
Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício.
O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto adnominal.
Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.
Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.
Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."