Por J.Alaor
Palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas igualmente em qualquer direção. Mas este é muito mais sofisticado que o clássico “socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”. Pode ser apenas uma brincadeira de um nobre romano, já que fazer palíndromos era diversão, como este com cerca de 19 séculos de existência e encontrado nas ruinas da cidade de Pompéia.
Com suas 25 letras ordenadas em uma grade de 5×5, o quadrado de Sator não é um palíndromo comum. Ele é composto por cinco palavras em latim que interagem entre si: SATOR, AREPO, TENET, OPERA e ROTAS, dispostas de forma que possam ser lidas em quatro direções diferentes:
- Horizontalmente, a partir do canto superior esquerdo.
- Também horizontalmente, a partir do canto inferior direito.
- Verticalmente, a partir do canto superior esquerdo.
- E também verticalmente, mas a partir do canto inferior direito.
Trata-se do chamado palíndromo quádruplo.
Além disso, as palavras da primeira e da quinta linha são as mesmas, apenas invertidas. O mesmo ocorre na segunda e na quarta linha. E, como se ainda fosse pouco, a palavra central, na terceira linha — TENET — é um palíndromo.
O quadrado é também um acróstico múltiplo — qualquer letra de uma palavra no quadrado exterior é também a primeira letra de outra palavra que parte dela em ângulo reto.
E, se você desenhar uma linha diagonal partindo da letra “S”, no canto superior esquerdo até o “S” no canto inferior direito, todas as letras de cada lado da linha estarão refletidas em perfeita simetria. O mesmo acontece se a linha for traçada entre as letras “R” no canto superior direito e inferior esquerdo.
A palavra “Sator”, em latim, significa semeador, agricultor, fundador, autor ou progenitor (geralmente, divino). “Tenet” significa manter, sustentar, conservar, compreender, possuir, dominar. “Opera” pode significar “com cuidado” ou “trabalho”; mas também quer dizer ajuda, serviço, esforço/problema ou obras e feitos. A palavra “rotas” pode-se referir a “rodas” e como verbo, quer dizer “fazer girar”. Já “arepo”, não há tradução no latim, podendo ser um nome próprio.
Sendo assim, lendo de cima para baixo, começando com “Sator”, pode-se construir a oração: “O FAZENDEIRO AREPO DOMINA SUAS RODAS COM DIFICULDADE” ou flexionando e alterando a ênfase pode ficar assim: “O SEMEADOR AREPO GUIA AS RODAS COM DESTREZA”.
Se um enigma de 19 séculos fosse tão simplório seria frustrante, para tanto tem entusiastas deste palíndromo que já encontram outros significados poéticos e metafóricos, tal como: “O CRIADOR DAS TERRAS DOMINA AS RODAS CELESTIAIS”. A palavra “Sator”, adquire o sentido de criador, pois poderia se referir a Saturno que no século I era o deus da agricultura romano.
Existem outras interpretações que buscam a influência grega sobre os romanos onde a escrita pode ser lida em direções alternadas. Nessa interpretação pitagórica o quadrado geraria frases estoicas como SATOR OPERA TENET — TENET OPERA SATOR que significa algo como: “O QUE VOCÊ SEMEAR, IRÁ COLHER”. Nessa interpretação sobra a palavra “arepo”.
Do grego “arepo” pode ser uma contração de Aerópago (Corte Suprema). Neste caso, a frase SATOR OPERA TENET AREPO ROTAS poderia ser traduzida como: “O SEMEADOR DECIDE SEUS TRABALHOS DIÁRIOS, MAS SÓ A CORTE SUPREMA DECIDE O SEU DESTINO”, podendo ser interpretado como se os mortais escolhem seus caminhos, mas os destinos são escolhidos pelos deuses.
Diversos significados e mistérios envolvendo este enigmático artefato, virando até um amuleto ao qual era imputado propriedades místicas e curar enfermidades. O quadrado era usado para curar qualquer coisa, desde mordidas de cachorro e raiva (comia-se pão com o quadrado modelado na manteiga) até dores de dente, medo de água ou a loucura. Na Alemanha medieval, acreditava-se que um disco talhado com o quadrado podia apagar incêndios. Na Islândia, ele era gravado nas unhas para curar icterícia. No Brasil, era usado para curar picadas de cobras.
Independente de seu significado original e até as primeiras interpretações através do tempo e distância, hoje incorpora a cultura global continuando o fascínio, gerando comentários acadêmicos e polêmica entre os eruditos em nossa contemporaneidade.