Estes dias, em uma conversas com os alunos de uma da escola onde eu trabalho, o assunto era sobre uma experiência pessoal de interatividade que tive com uma tribo de índios, e relatando fatos fica evidente a ênfase no choque de culturas, que é iminente neste tipo de encontro antropológico e a síntese deste evento, é a forma de como nós, descendentes de europeus, em sua grande maioria, interagimos com o meio onde vivemos. Fomos educados desde criança na cultura do guardar, do reter e da precaução através de ensinamentos simplórios, mas profundamente marcantes, como a clássica fábula de Esopo “A Cigarra e a Formiga” que fica evidente a moral da história: Guarde, previna-se e precavenha-se. Índio, não tem e não precisa ter essa preocupação.
O interessante é que esta cultura do guardar, vale para algumas coisas em nossa vida, como a comida, quando é do conhecimento comum, que a maioria das famílias, tem por hábito se dirigir a redes de auto serviço e comprar sempre o suficiente, não só para o dia atual, mas para a semana, para o mês e quiçá até para o ano. Mas o que chama a atenção, é que a mesma regra do guardar, não vale para o manejo com o dinheiro. Somos um povo que não possui o hábito de fazer poupança.
Buscando na história, os motivos de isto acontecer, pego um gancho no artigo anterior, onde desenterrei a figura do conde Afonso Celso e o livro que o mesmo publicou em 1900 intitulado “Porque me ufano de meu país” com absurdas afirmações que aqui era o paraíso e que nada de mal poderia nos atingir. Viviamos no Éden. De lá pra cá expressões populares como “Deus é brasileiro” e deixar rolar no religioso voto “Se Deus quiser” e até no samba popular do “Deixe a vida me levar” são coisas corriqueiras. A influência danosa desse livro durou cerca de 50 anos, onde era de leitura obrigatória no fraco sistema de ensino brasileiro deste período, sua leitura alinhava-se com o objetivo estatal de criar uma juventude com o acrítico, incondicional e incontestável “Amor a Pátria”. Pra quê guardar? Já que se Deus é brasileiro e olha por nós, quem poderá ser contra nós? O Estrago já estava feito. Mas nada que esteja tão ruim que não possa piorar, dizia o clássico pessimista. A partir da década de 50, o brasileiro também aprendeu a confrontar outro fantasma que rondava o parco orçamento familiar e corroia a renda do pobre cidadão trabalhador rural e da cidade: A Inflação. A chamada “carestia”, que já era um termo usado no passado desde os primórdios do período colonial de nossa nação, passou a ser uma palavra comum e cria-se a cultura do logo após receber a sua renda, o cidadão corria desesperadamente para a “vendinha” comprar os “mantimentos” pra passar o mês antes que o preço aumentasse. Essa era a rotina mensal. Como pode-se criar uma cultura previdenciária? A cultura de economizar e guardar diante de um cenário desses? Nossa vida ficou a curto prazo e se caso algo de ruim acontecesse no futuro? Deus ou o estado nos proverá…As pessoas deixaram tudo ao cuidado de Deus ou ao estado, inclusive seus aposentos. Este é o ponto que quero chegar. Semanas atrás em uma sala de professores, escutei uma conversa daquelas que preferia não ter escutado. Uma professora em final de carreira, contando os anos de contribuição e as perdas que ela terá pelos cálculos absurdos e fatores previdenciários que tornaram a aposentadoria algo indigno neste país, lamentava seu infortúnio diante de seus pares que ficarão na ativa e serão futuras vítimas do mesmo sistema previdenciário. Meu pai se aposentou contribuindo com 10 sálários mínimos e sua aposentadoria ao final de sua vida correspondia a 1/5 do que tinha direito e a ele soma-se milhões de cidadãos que confiaram sua dignidade na reta final do ciclo vital ao estado e hoje vivem na calculadora para fazer as contas e nada-lhes faltar de provisões ao findar do mês. Em uma palestra que fui no ano passado, um dos tópicos mais interessantes foi quando o palestrante afirmou em alto e bom tom, do alto de sua empáfia e conhecimento do assunto: Não confie seus destinos ao estado e sejam precavidos e não hesitem em fazer a adesão a um sistema de previdência privado. Endosso as palavras dele e garanto que diante do caos político-econômico e social que vivemos hoje, está ação é imprescindível para que seu sono seja tranquilo. Somos um povo que não possui cultura de poupança e isto é uma afirmação confirmada em estatísticas e em nosso cotidiano. Hoje já são aproximadamente 15 milhões de brasileiros que aderiram ao sistema de previdência privado e descobriram que as rédeas de suas vidas se deixadas por conta de um estado incompetente e ineficiente, será, com certeza, um péssimo negócio! Infelizmente.