A história de hoje vai contar uma passagem envolvendo um encontro de amigos que é o maior pretexto para se beber uns rabos-de-galo ou a popular manguaça. Eu sempre falava pra uma ex-namorada minha que a bebida deixava-me mais criativo e meus projetos mecânicos ficavam sempre com um toque genial que a sobriedade nunca dispunha (embora ela nunca acreditou) e o mesmo se aplica a esta passagem que o escritor e jornalista Raimundo Magalhães Júnior protagonizou logo após a Revolução de 1930. O nobre jornalista foi encarregado de entrevistar o General Góes Monteiro, homem forte de Getúlio Vargas. Mas preferiu gastar o tempo em um boteco bebendo com os amigos, inclusive com o colega de redação do jornal, Luiz Martins, e o tempo passou…passou…e tarde da noite, deu uma passadinha na redação do jornal, junto com o amigo e o editor, desesperado berrou: “Então? A primeira pagina do jornal está aberta esperando por você.” O jornalista Raimundo, ainda sofrendo dos efeitos da manguaça afirmou: “Calma, fiz a entrevista!” e completou na maior cara-de-pau “o general, quando começa a falar, não acaba mais. O meu amigo Luiz Martins viu tudo. Foi ou não foi?” e o outro companheiro de copo, também sofrendo dos efeitos da alegria contagiante da bebedeira é claro que confirmou. Raimundo pôs-se a escrever (a entrevista mentirosa) e repassar as folhas para o editor, que as encaminhava à gráfica. Dias depois o general encontrou o autor da entrevista mentirosa em um bar carioca. Raimundo tremeu na base. Mas por incrível que pareça, bem humorado, Góes Monteiro disse-lhe não só que gostara muito da entrevista, mas que provavelmente, fora a melhor que já tinha dado, uma obra-prima, pois é…
Em Noturno da Lapa, de Luíz Martins